O contato com o “outro”
Quando os indígenas viram as caravelas de Cabral aportando, eles provavelmente sentiram grande estranhamento. O que eles teriam pensado ao ver homens barbados, com aqueles trajes, vindos do mar em uma embarcação muito diferente das canoas que eles conheciam?
A surpresa dos portugueses também deve ter sido grande. Chamou a atenção deles a fauna e a flora locais, assim como a aparência dos indígenas. Leia um trecho do relato que o escrivão português Pero Vaz de Caminha escreveu sobre o primeiro encontro entre indígenas e portugueses, em 1500.
Andavam ali muitos deles, ou quase a maior parte. Todos traziam aqueles bicos de osso nos beiços; e alguns, que andavam sem eles, traziam os beiços furados e nos buracos traziam uns espelhos de pau que pareciam espelhos de borracha. Alguns traziam três daqueles bicos, a saber, um na metade e outros dois nos cabos. Outros andavam aí esquartejados de cores, a saber, deles a metade da sua própria cor e a metade de tintura negra, [à] maneira de azulada, e outros quartejados de escaques.
Entre eles ali andavam três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos compridos pelas espáduas [...].
Ali por então não houve mais fala nem entendimento com eles, por ser a barbaria deles tamanha que se não entendia nem ouvia ninguém. Acenamos-lhes [para] que se fossem. Assim o fizeram e passaram-se além do rio.
• É possível dizer que, nesse relato, Caminha faz um julgamento dos indígenas expressando alguma ideia de superioridade dos europeus? Por quê?
Quando Caminha diz que não houve mais fala nem entendimento entre eles, caracterizando-os como bárbaros, ele mostra espanto e ar de superioridade em relação ao costume do outro, como se fossem estranhos e selvagens. A descrição feita por Caminha da aparência e dos costumes dos indígenas também demonstra certo estranhamento por terem hábitos tão diferentes dos europeus.
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